segunda-feira, 15 de junho de 2020

Devagar o quadro toma forma,
Os contrastes definem os contornos...
Os contornos estendem a imagem,
Onde os raios de luz se revelam,
Brilhando sobre as searas e as nuvens...
A tinta que não secou ainda,
Permite-se como nós,
A alterações de última hora...
O amor pelo pincél é óbvio,
Na gota demorada que se prolonga...
Antes de se aceitar na tela anseando contacto.
Perco-me na imagem...
Nos pontos de cinzento que preciso nas nuvens,
E no branco que recrio no azul para a água tomar forma.
Como gostaria que a vida fosse assim...
Calma...
O lilás que acidentalmente apareceu,
Vai ser usado para te fazer uma borboleta...
Quase que te vai aterrar na mão,
Enquanto a olhas em espanto...
Como queria que não crescesses!
É essa a beleza da imortalização de uma imagem...
Podemos revivê-la vezes sem fim,
Num caminho claro até ela com a imagem como farol.
O caminho deste quadro...
Para mim, foi terapêutico.
Tive tempo suficiente enquanto a tinta secava,
Para o querer reviver todos os dias...
Confesso até que foi isso que me incentivou.
Como desejava poder voltar a esse dia,
Recordo-me de caminhar com a tua mãe,
Enquanto corrias atrás das borboletas...
De mão dada procurámos uma árvore,
Mas a procura foi mais um passeio,
Pois, naquela altura, de mãos dadas...
Vencíamos tudo com o nosso amor,
E tu sabias disso!
Fruto de um amor ingénuo e sem preconceitos,
De respeito, carinho e amizade.
Chama de paixão reconhecida por outros até,
Mas vista apenas em nós...
Hoje em dia,
As pinceladas são menos precisas e certeiras,
Pois a memória é matreira,
Gosta de contar a nossa perspectiva...
Mesmo quando tentamos ser imparciais ou sinceros.
Há coisas que não consigo recriar no quadro...
Como o som do teu riso...
O calor das tuas mãos...
A doçura dos beijos da tua mãe,
Ou a plenitude que partilhámos nesse dia.
O som dos canários que bebiam água da ribeira,
Juntamente com as rãs e outros pássaros de fundo,
Faziam a melhor composição musical,
Para apreciar a vossa companhia,
Respirar o ar puro e jovial...
Como queria voltar a esse dia...
Já queria que a mão fosse menos trémula...
Para fazer certos detalhes da tua face...
Mas por mais certeiro que seja,
Nunca irei fazer jus à tua beleza,
Ou a de tua mãe por sinal...
Como me lembras ela quando era mais nova...
Como queria voltar a esse dia...
Lembro-me, se é que não é a minha imaginação,
Que fomos passear para o campo por qualquer coisa imprevisível...
Mas algo tão simples como irmos apanhar laranjas...
E tu quiseste ir passear...
Molhar os pés na ribeira.
E como foi bom...
O sol beijou-nos a pele...
E tu, que não saiste a mim ficaste vermelhinha,
Como a tua mãe, rosadas e lindas.
Continuo a querer beijar essas bochechas,
Caminhar naquelas searas e abraçar a vida.

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