sábado, 31 de janeiro de 2015

Passado no presente...

As colecções que se espalham,
Pela casa, sala e quarto atrapalham...
Às vezes só me dá vontade de me trancar,
Na casa de banho e fingir não lá habitar.
As memórias que sobrevivem nas colecções...
São mais presentes que o nosso filho na sala sem calções.
Como está vivída a minha memória,
De ti sentada na cama a contar-lhe uma história.
Como me custa que já não estejas connosco...
Aperto forte que ao meu coração foi imposto.
Ele cresceu forte, sagaz e sadio,
Mas como deves saber, é bom moço, um pouco vadio.
De vez em quando sinto o vento a arrepiar,
Imagino sempre que sejas tu, a nos observar.
Queria e tínhamos tanto ainda para viver,
Mas tua saúde debilitou, não quis permanecer.
Entreguei-me para me entreter, às palavras,
Pois passei largas noites sem dormir em temperaturas elevadas.
E passeei pelas fotografias todos os dias,
Falei com elas, se ao menos ouvissem como tu me ouvias...
Como poderei alguma vez te esquecer...?
Se para isso terei de querer, deixar de lembrar, deixar de viver...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Não sei porquê...
Mas continuas a gritar aqui dentro...
Não percebo bem o quê...
Mas sinto-me no centro.
As palavras como adagas...
Perfuram e rasgam...
Tuas mãos agitadas,
Fogem e não param.
As coisas amontoam-se...
E os temas crescem...
E tuas palavras ecoam...
Enquanto sentimentos padecem...
Não te quero sequer contrariar,
Mas não queria ficar calado...
Pois enquanto me estás a atacar,
Deixas tudo o resto sossegado.
Vou falar baixinho,
Pode ser que me tentes ouvir...
Não posso nem de fininho,
Deixar que me vejas a rir.
Já aprendi a deixar de me exaltar,
Mesmo perante a injustiça...
E um dia hás-de para trás olhar,
E destes dias sentir cobiça.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Entre o sono e o sonho... versão 4

Venho de um mundo,
De eternos instantes...
Tão quente e profundo,
Cheio de vozes vibrantes...

Esse mundo retorna à chegada da noite,
Com uma hora a mais ou a menos...
Depende dele a minha sorte,
Ou dos contos que para adormecer lemos...

É um mundo perfeito,
Nas noites calmas e pacificas...
Mas nele encontro defeito,
Quando nele não habitas!

Sonho que é sonho...
Tem de te ter escarrapachada...
Pois se não tiver eu ponho,
A tua figura, tão desejada.

Até te podia chamar de sorrateira,
Ao perscrutares meus intimos pensamentos...
Mas entraste tão certa e ordeira,
Que sem ti os meus... não são momentos.

Entre o sono e o sonho... versão 3

Senti a cama a mexer ontem à noite...
No sonho entraste num abraço forte.
Mas foste à cozinha beber leite...
Desejei a mim próprio melhor sorte.

Nesse abraço que me aqueceu, que senti...
Houve uma emoção especial.
Algo que não sabia onde estava, que perdi...
Mas que soube tão bem, tão natural.

Foram fechando sem eu querer,
Pois quero mesmo dormir no teu espaço...
E ainda me hás de um dia ver,
A lutar contra o sonho, é o que melhor faço!

Voltaste seguramente na cama a entrar,
Deves ter demorado que trazias teu corpo gelado...
Timidamente não me vieste abraçar...
Fui eu que me voltei para o abraço apertado.

Provavelmente deixaste-te dormir no sofá...
A ver um documentário qualquer do Panamá.
Ou então nem chegaste a sair daqui de ao pé de mim,
E dormimos aconchegados nesse abraço sem fim.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Entre o sono e o sonho... versão 2

Os pensamentos arrastam-se,
Num cansaço que conquista...
Os movimentos atrasam-se,
Na corrida com a vista...

Cai a chávena, cai o café...
Em camara lenta até ao chão,
E eu a ver em direcção ao meu pé...
Mas não mexi nem o dedão.

E hoje os turnos continuam...
Faz-me falta o sono que descansa,
E estes turnos a que me obrigam...
Colocam a sanidade na balança.

Ao conduzir sinto-me a planar,
Mas tenho de ir para o trabalho...
Tento não fechar os olhos ou parar,
Pois tenho de provar o que valho.

Como poderia eu ouvir,
O doce som da chuva a cair...?
Os pneus a derraparem,
Ou a chapa do carro na minha direcção a vir?
Tudo em camara lenta...
Como nos filmes de animação.
Vamos ver se aguenta,
Este frágil coração.

Entre o sono e o sonho...? Versão 1

Já nem sei bem...
Se tudo isto acabou.
Deixa-me ficar aqui sem,
O minimo ruido, pois assim estou...

Já não ouço ameaças,
Nem o vento a zumbir nos ouvidos...
Eram enormes traças,
Doutros mundos perdidos....

Talvez nada fossem,
Pois apenas sinto os lençóis em mim...
As recordações trazem,
Pesadelos à realidade assim.

Mas tantas vezes que o sonho,
Me acorda com sorrisos...
Eu é que já não imponho,
Os mesmos sonhos precisos.

Abro os olhos bem devagarinho,
A preparar-me para o mundo real...
Vou assim sair da cama de fininho,
E esquecer o pesadelo brutal.

Pois essa fronteira é cada vez mais dificil de ver,
Nesta mente que sempre divaga...
Já não sei se deva voltar para a cama ou me esconder...
Pois ao ver a traça perdi a minha calma.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Há em todos momentos mais pessoais,
Pequenos ou grandes segredos escondidos...
Ou a pergunta latente "Onde vais?"
Infiltrada e espalhada em pensamentos perdidos...

Ninguém quer na realidade conhecer ninguém...
E essa treta do realmente querer...
É algo hipócrita e falso também,
Ou não estaria eu a escrever.

O que pensamos da pessoa é realmente,
O nosso mundo e no que acreditamos...
Mas quando conhecemos um pouco mais da gente...
É que compreendemos, é que nos revelamos...

Porque na intimidade conhecemos...?
Achamos que sabemos de tudo e presumimos...
Depois de muito descobrir é que vemos...
O quanto desconhecemos onde investimos.

Já não acho que é coisa menos boa...
Não conhecer nem na realidade saber...
É como chegar e olhar pela primeira vez Lisboa,
Desde que não seja para escolher casa e viver.

Uma surpresa em cada esquina,
Com que podemos aprender...
Um sorriso que confirma,
Que isto inesperado é que é viver.

Que o quente no meu peito,
Aquece tudo à minha volta...
E que não vem só do nosso leito...
Mas que nos rodeia e nos solta.

Que os sorrisos não precisam de expectativa,
Que os abraços vêm naturais e por si só...
E que as surpresas são de ordem colectiva,
Independente de onde ou para onde vou...

Cada dia começamos a desenhar,
Planos futuros que se deixam a pairar e vaguear...
Apenas para no final do dia,
Rasgar tudo até ao próximo bom dia!

Mas acordamos sempre com vontade,
De começar a desenhar e planear...
Como é bom olhar para ti minha metade,
E saber que desejamos o mesmo para começar, viajar...

Mais uma alvorada repentina,
Ao som do despertador...
Já chegava desta rotina,
Que me cansa o motor.

Mas eis que vem o sol,
Na sua graça e vida...
Escondo-me no lençol,
A evitar minha partida.

Posso fechar os olhos,
Posso até fechar a persiana...
Mas os pensamentos vem aos molhos,
E a mente a faltar não é leviana.

Por muito que não queira pensar,
Veem os colegas e o que acho de mim...
E então é sempre com pesar,
Que acabo por me levantar enfim.

Só mais um dia para terminar,
A provação que me impuseram...
As folgas estão a chegar,
E as actividades que nelas imperam...



sábado, 24 de janeiro de 2015

É sempre de mares revoltos que se lembra o marinheiro...
Raras, se algumas as há, são as memórias de calmo mar e bonança...
Mas das tempestades que varreram o navio, ou a que afundou o primeiro...
Essas sim, ninguém esquece... onde se abandonou a esperança.

Quando os barris galopavam pelo convés do navio,
E as velas gritavam com o vento a rasgá-las...
De como tudo ficou silencioso e vazio,
Ou do quanto corremos para apanhá-las.

De quando vimos o brilho dos olhos das sereias,
A convidarem-nos para as profundezas...
Estávamos também rodeados de baleias,
E prometeram-nos muitas riquezas.

Mas com doces tesouros em casa,
Fortes marinheiros com vontade de ferro...
Manifestam com um valente berro,
Onde é mesmo o seu lugar e recusam.

Pois mesmo sem debaixo de água respirar...
Um marinheiro conhece sua casa e lhe chama de mar.
Mas sem a familia que em terra deixou,
Nunca seria completo, nunca seria quem sou...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Oh como ambiciono esse virar de página,
Que me pesa todo o processo de ausência...
Tudo me parece já na vida uma sátira...
Menos o teu calor, a tua permanência...
E como tenho medo de um dia sucumbir...
Nos nossos planos e perder a vontade de rir...

Sei que por mim esperas e é o que tens feito...
Na nossa partida assim rápida e sem jeito...
Claro que sair não é fugir,
É apenas a procura da verdadeira despreocupação de sorrir...
E de que melhor maneira de ir embora?
Que com a pessoa que mais adora...

Vou deixar tanta coisa para trás...
Mas isso é pouco importante!
O que não quero é que tu vás...
E que eu me perca no entretanto...

Realmente... que mais posso eu querer...?
Uma vida verdadeira ou uma forma de crescer?
Olho à minha volta e ninguém tem outra solução...
Ninguém tem dinheiro, e para que ambição?
Existem formas de mais dinheiro ganhar...
Mas terei eu de investir em aldrabar, mentir ou roubar?

As crianças vão pouco a pouco crescendo,
E eu que não tenho nenhuma, contemplo...
Com arroz, batatas e peixe sobrevivendo...
Mas sou eu que me queixo da falta de tempo.
Pois como podem elas saber...
O quanto nos custa o dinheiro ter...

Todos os dias faço contas à vida,
E todos os dias vejo que não dá...
É uma vida mental dificil e sofrida,
Noutro país também assim será?
Ou longe de tudo o que sei...
Sem luxos viverei...?

Possivelmente não gasto tanto papel,
Mas aqui já não janto fora há 4 meses...
Ganha mas é juizo e contém-te Miguel,
Afinal... não emigras assim tantas vezes...
Só posso imaginar como é que os outros se conseguem safar...
Alguns mais velhos e conseguem arranjar trabalho e se desenmerdar...

Crise...? Depressão? Tristeza...? Para...?

Dizem que é necessário...
Mas eu digo que é apenas a causa da maior doença do mundo...
Pouco a pouco, retira-nos pedaços e deixa-nos ao sabor do vento...
Todos nós corremos atrás, mas para quê...?
Quanto mais perto estamos... mais tropeçamos...
E tentamos, tentamos e tentamos...
Que mais podemos fazer senão tentar...?
Poupar e tentar, com esforço fazer uns trocos...
Mas sabemos tão bem que o esforço aqui não rende...
Que temos o sol e o mar e não somos contentes.
Que temos familia e amigos, mas somos ausentes...
...
Não é o meu caso...
Mas conheço algumas pessoas que o fazem...
Acumulam dois e tres empregos para conseguirem dar aos filhos qualidade...
Qualidade de educação, qualidade de tempo e materiais...
O discurso não podia ser muito diferente do ultimo ano...
Afinal de contas estamos em Janeiro e nem sei se chego a Fevereiro...
Seguramente que com dinheiro no bolso não chegarei...
Mas também hoje em dia já não ligo a isso...
Se ligar não vou poder ajudar os meus a olhar para cima de queixo levantado...
E se desesperar e deprimir eu também... quem restará para nos alegrar...?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Já não as sentes?
Furiosamente colidem contra a tua cara...
E acumulam-se no teu queixo,
Antes de se precipitarem contra o chão.
Não ignores que elas continuam a vir...
Mesmo despreocupada, sente-as!
Não descures as sensações e abraça-as...
De que interessa se te molhas...?
Logo te secas...
Tens tempo para ficar debaixo das mantas...
Para te resguardares do frio e te agarrares com força...
Mas hoje, hoje sente... deixa o receio e esquece o medo...
Deixa que os arrepios te relembrem que vives,
E preocupa-te com a roupa só quando chegares a casa...
Hoje, dá o salto que sempre desejaste...
E pula, salta e ri...
A tua vida é hoje!
Amanhã... talvez já não seja tão bom e despreocupada...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Sunset

Naquele instante em que o sol se esconde no mar...
Agarrei-te com maior fervor, num abraço interminável...
Acho que nunca soube o que seria amar...
Mas sei agora que uma vida sem ti seria insuportável...
Não obstante a riqueza da vida e que a natureza tem...
Como poderia eu apreciar fosse o que fosse em pleno,
Se nem imaginar minha vida consigo, contigo sem...
Deixarei a beleza do mundo entrar, apalpando seu terreno.

O sol escondeu-se, mas sinto o seu calor ainda...
Ele escondeu-se sim, mas no meu peito para ti...
Como ambicionei este momento da sua vinda,
Como ambicionei poder oferece-lo assim...
Como tudo o que tenho,
Tudo te quero dar...
Não quero que penses que o desdenho,
Nem sequer é meu para to dar...

Mas assim como o céu e a lua,
São os padrinhos dos amantes...
Exponho a verdade nua...
E encorajo os infantes...
Se é amor que sentem...
Como saberão se é verdade?
Por muito que inventem...
Tenham atenção e cuidado.

Pois o amor é um caminho traiçoeiro...
E na sua busca muitas almas se perderam...
Não precisa de ser o seu primeiro...
Mas o que é certo de ser o amor, não é de todo certeiro...
Pois por tanto querermos amar,
Que nos engana-mos a nós próprios em acreditar...

Mas não percam a esperança nesse sentimento,
Pois quando ele chegar os outros vai ofuscar...
Essa fundação será forte e rija como cimento...
Nela vais construir tudo o que queres criar.
Se já tens pilares para assentar numa base por levantar...
Não penses que é obstáculo, pois se é verdadeiro o amor, nada o vai parar!

I feel the ropes of the ship tightening as the wind picks up... The boards crank and moan as if they had something to say, As the silence ar...