sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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Acho que vim aqui escrever... com um intuito!
Tudo começou quase à uma semana atrás. Com uma chamada da minha avó às 09:32 de domingo passado. Mal conseguia abrir os olhos, onde pesadas persianas impediam a luz e tudo o resto de entrar, pois estavam bem cerradas, talvez devido à intoxicação, ainda que curta, da noite anterior. Com pouca recepção e menor vontade de sair da cama, falei mais alto para ela me ouvir, naquele bunker onde a recepção é tão boa quanto uma francesinha em Olhão e tentei perceber através da preguiça manifesta do meu corpo as palavras saltitantes que depressa me chamaram a atenção... "pai"... "urgência"... salto da cama e corro para a porta para saber o que se tinha passado... a tal história... eram cuidados paliativos que tinham de lhe fornecer, mas como não havia essa possibilidade, mandaram-no para casa para aguardar a morte, incumbindo as pessoas que o amam que dele tratassem. Não estive cá... só a mim posso censurar! Não comeu depois de o mandarem para casa... devia-lhe ser difícil! Chegou a um ponto onde impotente, a Alice teve de chamar os bombeiros para o levarem para o hospital que não sabia mais que fazer... assim, devido ao ultimo evento que o pai teve e a minha consecutiva reacção de revolta por não ter conhecimento desse evento atempadamente, recebi uma chamada pouco tempo depois da minha avó para me informar... telefonema esse que me acordou e que relatei acima.
Preocupado? Sim! Fiquei preocupado! Como de todas as vezes que sabemos de alguém que nos é especial é levado para o Hospital, com a variável de frequência a pender em demasia para uma preocupação mais leve. Até porque pensava que ele só iria levar soro e voltaria para casa. Sempre com esse pensamento, percorri o resto da manhã, claro que sem dormir mais, e preparei-me para o trabalho. Obrigação necessária e imediata.
Eram 16:40 quando recebo outra chamada da minha avó! Soluçava e sofria... pesquei palavras pois frases eram incompreensíveis! "ultimo suspiro"... "querido filho"... "pai"... "morreu"! Pedi-lhe para ter calma e perguntei onde ela estava. Disse-me que estava com o pai no hospital, que o pai estava numa maca, que tinha estado há já 30 minutos a acompanhá-lo,  a dar-lhe festinhas e falar com ele... disse-me que o pai não estava em si, que não me reconheceria, que não estava bem naqueles últimos momentos! Que foi ela que lhe fechou os olhos! Que ele morreu!
Como que por impulso ligo para a minha irmã... não sabia bem se estava a afirmar ou se lhe fiz uma pergunta? Mas foi qualquer coisa do género... a avó ligou-me agora mesmo a dizer que o pai acabou de mandar o ultimo suspiro e que já faleceu... estás com o pai? Surpresa minha... ela não sabia! A minha irmã tem passado por tanto e a Alice também... que saber pelo irmão que mora no Algarve, quando ela está aqui tão perto e não sabe... a deve ter perturbado... a mim perturbaria e vejo a minha irmã parecida a mim em muitos aspectos! Mas foi assim que ela soube... por mim!
As lágrimas já corriam há muito nos meus olhos e foi sorte a hora da morte do meu pai, se é que se pode chamar de sorte a algum aspecto da morte, não coincidir com horas em que teria mais trabalho, pois na hora que foi... não tinha mesmo nada para fazer, o que permitiu que me ausentasse do trabalho imediatamente, após comunicação à supervisão claro! Tentei conter-me até ao meu carro, estacionado longe demais para não se ver o caminho traçado pelas gotas vincadas num chão quente e conduzi para casa.
Imagino que neste tempo, ambas as mulheres mais amadas pelo meu Pai se agarraram uma à outra e choraram! Imagino também que minha avó tenha ficado no Hospital junto do corpo do Pai.
Cheguei a casa... ainda não tinha entrado... já soluçava! Reparei no carro do meu primo Gavino no exterior antes de entrar... mas nervoso, a chorar, com medo de não ter pai, refugiei-me no quarto e enquanto me despi apercebi-me que a camisa estava encharcada de água... não consegui! Sentei-me, dobrei-me, chorei, solucei, senti a presença do Rodrigo e a sua voz... mas não ouvi o que dizia. Não havia palavras que fizessem sentido naquele momento... nem as procurei! O Gavino perdeu o pai dele há poucos meses atrás também... quando ele entrou no quarto e me abraçou... parecia que me tinham arrancado o coração do meu próprio peito e aí sim chorei com tudo, larguei ferro e aguentei a tempestade de dor que se avizinhava... onde cada onda da tempestade rangia as madeiras e ameaçava quebrar tão bem formada estrutura... onde cada respirar fundo era carregado de água como se me afogasse num mar revolto... onde cada recordação era vivida num piscar de olhos mas com uma intensidade imensurável... onde tu estavas presente Pai!
Podia ter chegado a Oliveira de Azeméis mais cedo... podia! Sei que não queria, secretamente ninguém quer de livre vontade sofrer, vir para Oliveira representava mesmo isso... dor!

a continuar...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Não somos mais que pequenos grãos de areia!!!

Pois... bem que procuramos a essência da vida, o propósito da nossa presença cá na Terra... mas chegámos a alguma conclusão que seja unanime pelas ciências e religiões? Não!
É na proximidade da morte que valorizamos a vida e ao invés dos desenhos que vamos elaborando na nossa mente, daqueles esboços em que tentamos com toda a força acreditar de uma forma ou de outra, não há nenhuma iluminação divina no término da nossa presença fisica! Não continuamos a viver olhando para baixo, como se de anjos nos tratássemos! Acabou! Pelo menos para os que cá ficam... ACABOU!
Conseguiremos nós aceitar isto até à hora da nossa despedida? Ou vamos tentando iludir-nos dia-a-dia, agarrando-nos à vida com todos os folegos possiveis de acontecer nas nossas forças?
No final é só isso que somos... grãos de areia....... soltos... que se transformam em pó... como tudo neste planeta!
Hoje aqui passei para deixar um Alo,
Breve acenar de amigo que sou,
Hoje aqui passei para vos dizer,
Que somos o que somos para viver.

Não procuro explicações,
Ou teorias lógicas que seja,
Como lidar com emoções?
Numa força que fraqueja...

Memórias de pequeno,
Me saltam à imagem,
A brincar na alameda
E os lanches que nos trazem.

Ou o dia da carrinha,
Parecia enorme e quadrada,
Agarrado à priminha,
Que também estava assustada...

Vieste-me resgatar da caixa,
De madeira lembro-me bem,
De farpas afiada onde paguei a taxa,
Da minha pele esfolada também!

Entre mil e outras alturas,
Sempre fui seguro do que sentes,
Mesmo com essas loucuras,
E nunca pelos presentes.

Mas a segurança de filho,
Amado, desejado e querido,
Essa sempre bem latente,
Sempre longe... Sempre Presente!

I feel the ropes of the ship tightening as the wind picks up... The boards crank and moan as if they had something to say, As the silence ar...