domingo, 27 de dezembro de 2015

O sangue já chega à rua e numa indeferença a que não reconheço levantas o pé para não molhares o tacão dos teus saltos altos, essas andas que mais te parecem deixar-te num pedestal que levantarem-te as nádegas nesse voluptuoso caminhar sexy que me deixa sempre arrepiado... continuo a contemplar-te e perco-me na poça escarlate que foge na tua direcção. O invólucro e recipiente deste liquido rubro jaz já inerte e nem paraste para o ver ou auxiliar apesar de ter sido parte da tua vida passada... é isso mesmo... faz parte do passado...
Livre finalmente deste grilhão que me prendia ao mundo fisico, perscruto a tua alma, e continuo nesta demanda em que me sinto eternamente preso a ti como se a tua energia alimentasse o meu voô... como se não existisse sem ti... agora que o que é aceite ou não pela sociedade pouco ou nada me influencia... permaneço o mesmo e os meus desejos escuros e mais sombrios visualizam nosso reencontro etéreo e eterno e como que num desabafo, desejo que morras para te juntares a mim, mas rapidamente esse pensamento é substituido pelo rubor altivo do amor que reprime esse devaneio e instinto recalcado do ciume, do desejo... do egoísmo... se te desejo...? Sei-o com tanta segurança que nem sei passá-lo para palavras...
Nisto o carro continua e os salpicos que o pneu manda na tua direcção ao passar por ti acertam-te ilogicamente e por fortuidade no peito do pé, mesmo na abertura dos teus saltos altos e de repente... reconheces-me... a tua pele sabe que já fomos um e aceita o resquicío do meu antigo ser agora desprovido de vida e acção... de cima, vejo-te a procurar a fonte que originou esse riacho de amor manchado, esse perfume de vida morta que inebria e gera repulsa...
Cambaleio no meu voô por cima do teu ombro quando te vejo ajoelhar na poça... e reparo que alguém bate violentamente no meu peito e ainda por cima do ombro o meu peito começa a ganhar cor e a palidez que é de todo incomum em mim começa a dar lugar a um tom natural... o sangue começa a fluir ao contrário e no toque da tua mão na minha face sou puxado com tamanha violência com o ultimo soco no peito que inspiro violentamente e me levanto para tomar ar apenas para ser empurrado para o chão novamente para te ouvir dizer....
Não te levantes... tiveste um acidente, mas eu estou aqui... e nunca mais daqui vou sair...!
Esboço um sorriso ainda a ver a minha pinga de sangue no teu pé embelecido pelo sapato que tão elegante te faz as curvas das pernas e desejo-te ainda mais... quero-te ainda mais... e com medo de fechar os olhos para não mais te ver ao os abrir... deixo o sorriso ser completo para te poder dizer... a minha vida és tu... espero que queiras fazer parte disto... antes de cair num sono profundo e dormir...


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Pai...

Hoje, como sempre que cá venho...
Fui ler-te e perdi o amor à água salgada...
Hoje, posso dizer que tenho...
Uma saudade deveras exacerbada.

Foste tu que me ensinaste a cuidar,
E me ensinaste tantas outras coisas...
Como em vida as pessoas apreciar,
Ou como construir minhas prosas.

Foste e sempre serás meu protector,
E apesar de por isso teres lutado,
Sei que tomaste em ti tamanha dor...
Que te moldou um bom bocado.

A distância a que a vida obrigou,
Foi mais que desnecessária, foi cruel.
Fez de mim grande parte de quem sou,
Sou o teu filho que te adora, o Miguel.

Como te digo meu coração pesa,
Quando não te posso ver ou consultar...
Até o teu corpo a cinza leva,
Custa não te poder visitar.

Mas carrego-te sempre comigo,
Nos valores, genética e moral...
Vais no meu coração bem protegido,
Até já tatuei o teu animal.








Já corremos outros montes e vales mas nada como o que se nos apresenta... com as pernas cansadas e o fôlego morto mudamos as vontades imediatas ao olhar para o objectivo... mas forçamos caminho... pé ante pé galgamos centimetros que irão fazer kilometros quando combinados e em cada inspiração deste ar rarefeito temos de nos convencer que fazemos o correcto, que todos os objectivos devem ser alcançados... almejamos que quando os concretizemos, que algo prodigioso se revelará mas sabemos que normalmente nada do que é esperado realmente acontece e a desilusão e desespero instalam-se antes de traçarmos um novo objectivo onde nos convencemos que será de todo diferente do último... muitas vezes nos sentamos para recuperar o ar que não nos chega na travessia e o objectivo distancia-se... de cada vez que baixamos a guarda não sei se é o tempo ou qualquer outro interveniente na história, como a própria vida que não espera por ninguém, certo é que tudo se complica... quando nos sentamos para descansar nunca nos apetece voltar a caminhar a não ser que a ansiedade tome conta de nós e ainda tenhamos aquele fogo que lentamente vai crepitando e alimentando a chama que incendia o desejo de sentir essa concretização, de atingir essa meta proposta.

My baby shot me down....

Escrevi-te outra vez... e no negrume da minha alma procurei encontrar qualquer esperança de resposta... a ferrugem da adaga que carrego neste coração áspero está lentamente a contaminar este invólucro de nada sem ti... a dualidade dos meus pensamentos... do que poderias tu dar importância ou não, é reflectida nas minhas acções tão perdidas de emoção como de sentido e assim me quedo nesta passividade do não incomodar... do não correr atrás... de mostrar que continuo confiante quando o que é realmente verdade é que tenho medo de não te ter mais, de nunca mais sentir o amor... de nunca mais sofrer pelo amor... as portas com o tempo ficam mais longe e o meu alcance cada vez mais se reduz na falta de luz deste corredor de escolhas e decisões... sou cada vez mais um nada, um alguém que já existiu em toda a sua glória mas que rapidamente se desvaneceu no que lhe foi intrinsecamente educado como aceite ou não... e que posso eu fazer?

domingo, 20 de dezembro de 2015

Hoje acordei com o teu cheiro...
Sonhei com a tua pele.
Com o toque sublime dos teus lábios
E o encontro dos meus neles.

Revivi o passado por capitulos
E mesmo assim não cheguei a nenhuma conclusão.
A sensação de ser água doce em mar salgado
Deriva neste sentimento de solidão.

Mas ao menos recordo em sonhos,
Aquela plenitude que durou segundos...
Seremos sempre o que somos,
Vivendo em diferentes mundos.

A nostalgia abre forma de sentir o passado,
Mesmo sem o desejar recorro a ti...
Como olhar para ti me fazia sorrir despreocupado,
E este sentimento que ficou desde ti... aqui... assim...


I feel the ropes of the ship tightening as the wind picks up... The boards crank and moan as if they had something to say, As the silence ar...