domingo, 10 de janeiro de 2016

"Naufrágio" de Ulisses Tirano

Este texto é de um amigo meu, um verdadeiro amigo meu... que escreve desta forma tão singular e tão marcante para mim... espero que concordem...

"Aperto forte o punho de cabedal da espada, é suave, contrastando a rugosidade dos meus dedos... do meu ser. De olhos fechados vejo-te tentares despir-me a armadura. Sorris e com essa tua graça, envolves-me nos braços e tremes ao toque frio da minha pele que reflete a lâmina. Pousaste gentilmente a mão sobre o meu peito; no interior, naufragado, afundava-se o coração. O meu rosto escondia a dor enquanto lentamente me enchias de emoção. Sem escolha ou opção deixei-me levar na breve brisa que os teus lábios pareciam provocar junto dos meus e eu, ser das trevas, incapaz de ver além da escuridão o meu vasto reino de solidão. Sinto-me quebrar neste falso isolamento que quis criar. Abro os olhos e ergo no ar a espada, essa que irá cortar aqueles que me tentarem conquistar. Sou um lobo no mar, há muito que desisti do amor e nada do que possas fazer me irá libertar. Sou um já morto, feito para batalhas sem fim, onde emoção é fraqueza e musas tornam água em sal. Só o sangue, este que hoje bebo, traz o sorriso a estes secos lábios e velhos olhos que em breve, espero, serão cerrados para sempre, naquele que será o derradeiro naufrágio no interior do copo em que me afogo todas as noites desde que me matei em ti."

Ulisses Tirano

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