segunda-feira, 8 de maio de 2017

Já olhei para trás demasiadas vezes e numa dessas senti o calor do teu olhar a trespassar-me e a seguir caminho como que culpabilizando o facto de estar mais adiante de ti ou do que tu foste para mim...
Hoje ao andar deixo os braços penderem e as mãos sentirem as searas que embelezam estas paragens com o azul celeste a contrastar com o mar ao longe... mirando a porta de casa lá bem ao fundo deste campo semeado e cuidado por mim vejo a alegria dos meus olhos... os grilhões que não me permitem ser o que sempre senti ser... o marinheiro intrépido que fustiga as sereias e faz pouco das tempestades, dobrando cabos e tormentas como se de uma vara se tratasse... mas estes grilhões impedem-me de seguir o meu destino e quase que me levam a abraçar o que se espera de mim... este destino vil e cruel que me afasta do elemento que me faz inteiro, completo... Temos carne, água e cereais numa pequena horta que mantemos, mas carrego também este vazio dentro de mim, esta constante idealização da felicidade ao ouvir as vagas a baterem no casco do navio... num vislumbre de terra ao longe ou de um grito alegre lá de cima da gávea.... acho que no meu sangue corre mesmo é água salgada.
Ao chegar a noite, suave e doce confidente... apago as velas da casa e o óleo de baleia no candeeiro que illumina a entrada. Encosto a porta levemente e arranco para o meu pouso um pouco acima do monte de onde consigo perscrutar toda a baía onde se ancoram os navios que anseio, onde a vida que sinto que deveria viver se desenrola numa épica batalha interior... sou pouco do que deveria ser... sou vislumbre assumido e chefe de familia a quem não há-de faltar nada... mas sinto, dentro de mim que não cumpro as expectativas sem ser as que as mulheres da casa têem. Sou fraco... em não viver o destino assumido pela minha alma e sim em viver o destino aceite pelo meu corpo e sensação do correcto. Que fraqueza e que força, a que me impede de viver o que sinto ser certo e a que me impõe presença nas pessoas que me amam...

Serei alguma vez completo?

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I feel the ropes of the ship tightening as the wind picks up... The boards crank and moan as if they had something to say, As the silence ar...