O tempo passa devagar, como infelizmente se espera dele quando o queremos célere.
O desejo dos segundos acelerarem invade-me os pensamentos e a tensão no corpo é agora algo palpável, os meus olhos ficam raiados e as veias endurecem num crescente de ansiedade.
Cheguei a casa na garrafa vazia de Macieira... a condução... essa... espero que não tenha tido testemunhas. Não acendo um cigarro porque tenho medo de me sentir mal... o fumo não se mistura bem nas altas horas da madrugada com o conteúdo da garrafa de Macieira que guardo dentro de mim... mas mal já estou... para ser sincero nem me lembro do percurso da noite... nem me lembro de como arranjei a garrafa de Macieira (que para ser sincero poderia ser de qualquer coisa mas prefiro aquele catalisador que o meu corpo conhece bem e acolhe de braços abertos.... Whisky) na falta de melhor...
A chave ainda está na porta e essa ficou entreaberta a ver-se os primeiros raiares de luz que perfuram a nuvem de pó da casa enquanto estou sentado no chão, no canto a observar as mobílias, a identificar qualquer forma de vida que consiga num olhar trémulo e muito difuso...
Levanto-me para me dirigir ao bar... num cambaleio para a esquerda ao levantar-me tenho de me apoiar na poltrona onde está ainda a tua manta. Ainda tem o teu cheiro... e caio novamente, agora nos meus joelhos com a cabeça assente na tua brisa, as imagens assolam-me numa intempérie de emoções que me saltam à pele. As nossas imagens na praia, com o protector... as tuas folgas... os mergulhos e explorações, as pescas e surfadas... as noites de amor corrido, o acordar tão junto que no verão quase não podias com o calor... o abraço que te segurou em mim e os beijos sentidos e tão desejados... num soluço consigo conter as salgadinhas que me fogem dos olhos ao olhar para esta noz sem miolo, esta casa sem alegria, esta relação que perdeu o encanto... e consigo levantar-me ainda fitando a manta pelo canto do olho e amaldiçoando-a também por me fazer recordar enquanto faço o meu caminho ao bar...
Sirvo um copo de Johnny Walker Blue até acima e ganho coragem para o cigarro agora... perscruto os bolsos na procura do isqueiro para acender mais uma fagulha na minha lareira que me há-de queimar por dentro e inspiro tanto quanto consigo, como se te pudesse respirar... apenas para te largar imediatamente num continuo sopro em direcção ao copo.
domingo, 7 de fevereiro de 2016
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