É na esquina da mesa que concluo os cálculos mórbidos que me assolam. A carteira vazia, a casa inerte, imóvel e sem conteúdo... o teu armário apenas com cruzetas e o meu incólume. Abro o frigorífico para ver se há algo que me inebrie, que diminua esta sensação de vazio, de inutilidade e de existência parca... já esperava que o frigorífico ficaria igual... a comida amontoa-se e álcool nem vê-lo... mas sei que na parte de trás da segunda gaveta do congelador está uma garrafa de Gin Gordon's. Na pressa de não sentir tanto nem as portas fecho e jogo a garrafa à boca como se tivesse atravessado um deserto sendo aquele o único liquido que pode fechar as gretas dos lábios, o nó do estômago e a garganta áspera da areia que carrega. Num movimento natural procuro o maço de tabaco nos bolsos e um isqueiro, já a pensar que se não o tiver que posso sempre ir acender o cigarro ao fogão (visto que esse ficou cá em casa aquando da sua partida) e puxo-lhe fogo na crepitante chama trémula que cativa o meu olhar. Exalo o fumo misturado com ar quente e ansiosamente inspiro-o novamente num prolongado encher de pulmão...
Bem velhinho este post que nunca foi... mas que virou vida momentânea e temporária...
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
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